O apelido nem sempre significa que realmente não estão trabalhando, mas sim que o trabalho atual deles geralmente não está à altura do interesse midiático do que fizeram no passado. Um passado que eles reivindicam repetidamente, explorando ao máximo aquele sucesso distante.
Um dos exemplos mais claros dessa tendência é Tom Felton, o ator britânico que interpretou o malvado Draco Malfoy na saga cinematográfica de Harry Potter. É muito provável que, se o leitor é um usuário ativo do TikTok, tenha se deparado com o rosto de Felton lá, causando um pouco de vergonha alheia.
Quase todo o conteúdo que ele gera está relacionado, direta ou indiretamente, com a criação de J.K. Rowling, seja reagindo a vídeos nos quais outros usuários o imitam dizendo a palavra “Potter”, parabenizando um antigo colega de elenco pelo aniversário, relembrando alguma anedota ao lado de Daniel Radcliffe ou promovendo o livro de memórias que, aproveitando seu sucesso nas redes, publicou em outubro de 2022, ‘Além da Magia’.
A técnica de Felton tem sido um sucesso estrondoso: ele já acumula mais de 10 milhões de seguidores e mais de 155 milhões de curtidas, embora também tenha algumas críticas. Frases como “arrume um emprego”, “deixe de basear sua personalidade em algo que aconteceu há séculos” ou “deixe Draco ir” podem ser lidas repetidamente nos comentários de seus vídeos.
No entanto, seja pela adoração de muitos usuários ou pelo puro “hate watching” (o prazer de assistir algo que se odeia), o ator tem sua própria hashtag, #DracoTok, que tem quase 35 bilhões de visualizações (sim, o número está correto). Mas a verdade é que ele nunca parou de trabalhar no cinema e na televisão, embora em produções britânicas de médio porte; ele poderia viver tranquilamente desses trabalhos, mas não parou de capitalizar aquele papel distante.
Felton não é, de longe, o único artista que está fazendo isso. Em um vídeo recentemente publicado no YouTube sobre o tema, a analista de internet Casey Aonso também cita outros personagens, como Taylor Lautner, o lembrado lobisomem Jacob Black da saga Crepúsculo, que explora há algum tempo, tanto nas redes sociais quanto na mídia, seu relacionamento passado com Taylor Swift (eles namoraram por apenas alguns meses em 2009).
Outros exemplos são Jerry Russo e Jennifer Stone, dois dos atores da série infantil do Disney Channel, ‘Os Feiticeiros de Waverly Place’, que há quase um ano apresentam o Wizards of Waverly Pod, um podcast no qual revisitam os episódios, contam anedotas e entrevistam outros membros do elenco, incluindo Selena Gomez. Na semana passada, foi anunciado que a Disney está trabalhando em um piloto para uma sequência da série, embora nenhum dos atores faça parte do elenco.
Voltando aos tempos melhores
O formato de podcast de revisitação tem sido um fenômeno nos Estados Unidos. Muitos atores se lançaram a reviver os velhos tempos (e os antigos sucessos) e a comentar sobre suas séries. Um sucesso tão grande que é realmente surpreendente que não tenha sido imitado na Espanha, pelo menos não em sua versão com atores.
Neste campo, talvez um dos casos de maior sucesso seja o Office Ladies, programa apresentado por Jenna Fischer e Angela Kinsey, respectivamente Pam e Angela na aclamada The Office, que, aproveitando o sucesso contínuo da série e sua reivindicação nos últimos anos (especialmente em forma de clipes e memes), revisitam cada um dos 201 episódios relembrando anedotas desconhecidas pelos fãs e entrevistando alguns de seus colegas de elenco.
Mas não foram apenas elas: Zach Braff e Donald Faison, JD e Christopher da série Scrubs, fazem mais ou menos a mesma coisa em Fake Doctors, Real Friends with Zach + Donald. Rachel Bilson e Melinda Clarke, protagonistas em The OC, apresentam Welcome to the OC, Bitches!. Luke Danes faz o mesmo com Gilmore Girls em I Am All In with Scott Patterson; Jodie Sweetin e Andrea Barber com Full House, em How Rude, Tanneritos!; e Jennie Garth e Tori Spelling (Kelly e Donna) com Beverly Hills, 90210MG.
Para explicar um pouco esse fenômeno, Casey Aonso destaca em seu vídeo um dado importante: quase todas essas pessoas se tornaram famosas em uma época anterior à existência das redes sociais. Um tempo mais simples e que muitos lembram com certa nostalgia.
Os trabalhos mais importantes desses artistas desempregados aconteceram antes de termos uma conta no Instagram, no Facebook, e muito menos no TikTok. Para artistas como Felton ou Taylor Lautner, foi mais difícil não cair no esquecimento. Eles não tinham a possibilidade de se reivindicar todos os dias, diretamente nos celulares, como outros atores, cantores ou modelos podem fazer hoje, tornando-se rapidamente influenciadores se outros trabalhos escasseiam.
Portanto, para recuperar o terreno perdido, eles tiveram que se arriscar um pouco mais nas redes sociais, causando até um pouco de vergonha alheia, se necessário, com o objetivo de voltar a serem relevantes, de voltar às nossas vidas e conversas.
Foto: Reprodução
Fonte: oglobo.globo.com